Zen

Estudar o caminho de buda
É estudar a si mesmo
Estudar a Si mesmo
É esquecer-se de Si mesmo
Esquecer-se de Si mesmo
É estar iluminado por todas as coisas
Estar iluminado por todas as coisas
É libertar seu próprio corpo e mente
e o corpo e mente dos outros...


Mestre Dogen

Quando Alguém Pergunta, " Qual o Caminho ? " O Zen Responde Simplesmente Caminhe...


mensagem do petrô

texto sobre Ivan Petrovitch

UM "HAIJIN"

Como dizia Cézanne, "a sensibilidade caracteriza o indivíduo e,no seu grau mais elevado,distingue o artista."

Ivan Petrovitch é um verdadeiro artista,que vê as coisas e acontecimentos com olhos amanhecentes,às vezes de criança.

O mundo que as pessoas percebem,no cotidiano apressado,possui outras faces,inéditas,que os haicais de

Ivan captam,em "insights" criativos.

Dois exemplos:

incêndio na mata

galhos secos e retorcidos

ferem os olhos de Deus

são tantas estrelas

neste universo sem fim

cadê minha mãe ?

Impossível não perceber nestes poemas concisos a transcendente iluminação poética(principalmente no se-

gundo,já que se refere a estrelas...)

CLÁUDIO FELDMAN - autor de mais de 47 livros, professor e poeta.

lua

lua

caqui

caqui

chuva

chuva

borboleta

borboleta

8 de jul. de 2008

ANÁLISE LITERÁRIA

A Palavra como Instrumento na Poesia de Cassiano Ricardo

"Toda arte fala; mas a poesia é a única que fala a linguagem das palavras." (Cassiano Ricardo, 1966: 15). Esta frase expressa a síntese da filosofia adotada por Cassiano Ricardo para compor os seus poemas.

Fundamentando-se nos postulados teóricos da estética praxista, Cassiano Ricardo empenhou-se na busca de novas soluções estilísticas, emergentes das concepções de mundo por ele depreendidas, cujo tempo histórico retrata a era da tecnologia, da informática, dos novos experimentos científicos; enfim, utilizando os termos de Nelly Novaes Coelho, o "mundo da bomba atômica", em que somos sobreviventes e espectadores desse cenário turbulento.

O estudo da linguagem ricardiana permite afirmar que este poeta poderia ser designado como o "poeta da palavra", uma vez que trata os signos lingüísticos como se fossem peças de um brinquedo que ele monta, desmonta e remonta, criando assim novos brinquedos que, desse modo, exercerão uma nova função dentro do contexto em que estão inseridos.

É dessa maneira que Cassiano Ricardo trabalha com a palavra: através do desmembramento de um vocábulo, ele cria outros que, por sua vez, constituem um novo código lingüístico, matéria-prima da mensagem transmitida em seus poemas.

Assim sendo, as palavras sofrem um processo que poderíamos denominar de "sanfona", uma vez que são distendidas, contraídas, alargadas, comprimidas, causando várias rupturas na sua estrutura interna, cujas conseqüências serão determinantes na formação de novos campos semânticos dentro do corpo do texto poético. Toda essa "plasticidade" vocabular deixa transparecer o modo como Cassiano Ricardo explora as palavras em seus âmbitos semântico, sintático, fonético e, até mesmo, gráfico.

Os espaços em branco estabelecidos entre as palavras e versos (ou melhor, plurissignos como são denominados pelo poeta), funcionam como um retoque final no acabamento de seus textos. Utilizando as palavras de Cassiano Ricardo, "a dialética do espaço em branco com o em preto, dá ao poema uma fisionomia peculiar que o destaca imediatamente da prosa, que não tem essa preocupação." (Cassiano Ricardo, 1966: 9). Em seus poemas os espaços em branco passam a ter uma outra conotação: aqui, a página em branco não é um simples pedaço de papel utilizado pelo poeta para escrever o seu texto. Os trechos em branco passam a interagir com os sinais gráficos nele impressos e, juntos, constróem a significação do poema. Mais do que isso, os espaços não preenchidos da folha substituem as pausas e as entoações dos versos, tornando-se desnecessária uma excessiva preocupação com a pontuação e, por conseguinte, um extremo cuidado com a instauração do ritmo e da harmonia do texto poético. É como se a pontuação se substantivasse e passasse a ser determinada pelos espaços em branco que rodeiam o poema. Além disso, sob o ponto de vista da filosofia praxista, a comunicação se dá não só por meio das palavras, mas, também, e sobretudo, pelo não verbal, isto é, por intermédio de imagens.

Nesse sentido, podemos considerar a palavra como o elemento essencial na construção de seus textos. É ela a responsável pela transformação da linguagem comum em linguagem poética, no momento em que estabelece uma fusão espacio-temporal com os demais elementos básicos do poema.

A partir da criação de vocábulos e das inter-relações e intra-relações estabelecidas entre eles e os versos, Cassiano Ricardo constrói todo o universo semântico de seus poemas. A palavra, além de ser a matéria-prima de sua criação, é o instrumento utilizado pelo poeta para expressar seus estados da alma, extravasando, dessa forma, os seus mais íntimos sentimentos. Assim sendo, o peso e o valor da palavra dependem, e muito, do modo como esta é articulada e, principalmente, dos acréscimos de significação que o poeta lhe dá.

Na poesia, a língua não é apenas um sistema orgânico do qual lançamos mão para nos expressar e comunicarmos com as outras pessoas. Nela, a língua apresenta-se como um "ser vivo" e, como tal, possui vida, personalidade e determinadas nuanças que a tornam singular quando comparada com as demais formas de manifestações lingüísticas.

Assim como todo sistema lingüístico, a linguagem poética possui um método de organização da sua estrutura interna, em que a disposição das partes, ou elementos de um todo coordenados entre si, funcionam como a base sobre a qual irá apoiar-se e constituir-se como um conjunto de signos uno e significativo.

Nos poemas de Cassiano Ricardo, por exemplo, as partes são as sílabas, que formam os signos lingüísticos que, por sua vez, compõem os sintagmas responsáveis pela instauração do significado dos seus poemas. Essa é a dinâmica da estrutura poética dos textos de Cassiano Ricardo.

Nos poemas ricardianos, embora as palavras sobrevivam independentes umas das outras, estão fortemente ligadas pelo contexto, pois é por meio dele que elas se unem para dar ao poema uma montagem significativa. É o contexto que determina na poesia a sua existência e, principalmente, o seu caráter durativo e "eterno".

As composições poéticas de Cassiano Ricardo têm uma imagem muito forte. Cada palavra possui uma cor, um brilho, os quais contribuem para o enriquecimento "imagético" do texto poemático e, quando reunidas para a construção do poema, deixam fluir todo o seu potencial "artístico" enquanto signo lingüístico por excelência. É como se cada uma delas representasse uma "imagem" peculiar, que quando combinadas formam uma unidade monocromática totalmente (ou quase) harmônica.

Poesia e pintura são duas formas de manifestação artística que caminham paralelamente e, por isso, se completam. Ambas têm em si a "imagem" como fator determinante na sua constituição. A musicalidade também é uma constante tanto no texto poético quanto na pintura, embora no primeiro se apresente de maneira mais evidente, mais transparente.

Desse modo, os poemas de Cassiano Ricardo podem ser entendidos como quadros, nos quais o poeta trabalha cada detalhe com muito cuidado para não arruinar o produto final da sua obra-de-arte. Todo esse zelo em preservar o significado da criação textual pode ser notado no momento em que Cassiano manipula os signos lingüísticos, no intuito de elaborar uma nova produção poética: quando o poeta rompe com a estrutura de um vocábulo, ele presta muita atenção para recuperar a sua integridade semântica em um outro signo ou, a partir do segmento recortado, criar um novo, com um outro significado dentro do seu próprio contexto enquanto palavra e de um maior, que é o poema.

Nenhum elemento, lingüístico ou não, dentro dos textos de Cassiano Ricardo são desprovidos de significado; todos executam um papel ou exercem uma função dentro contexto em que estão inseridos. Inclusive o silêncio, ou mesmo um sinal gráfico, possui uma significação no texto. É a coesão estabelecida entre os elementos gramaticais e "agramaticais" do poema que constituem e constróem a unidade semântica de seu estilo poético. Por conseguinte, a utilização de ideogramas, a distribuição estratégica das palavras na página e as imagens por elas construídas, passam a ser elementos determinantes na poesia de Cassiano Ricardo.

Baseando-se nos estudos sobre teoria da linguagem de Karl Bühler, Mukarovsky esclarece que a língua possui três funções fundamentais no esquema da comunicação, a saber: a representação, a expressão e o apelo. Para o autor, este esquema está perfeito no que concerne à função comunicativa da língua, mas não à função poética, que possui como traço distintivo a função estética. "A nova função transforma o próprio signo no centro das atenções." (Mukarovsky, 1978: 161).

Na função estética o signo lingüístico debruça-se sobre si mesmo, inserindo-se semanticamente na estrutura interna do poema, enfraquecendo, assim, a sua relação com a realidade. Enfraquece, mas não deixa de existir por completo, uma vez que a poesia "não se refere somente às realidades concretas, mas ao universo inteiro." (Mukarovsky, 1978: 165). Nestes termos, podemos concluir que na poesia as funções práticas da língua encontram-se subordinadas à função estética e, por seu intermédio, o fazer poético concentra-se no próprio signo.

A função estética mostra-se muito presente nos poemas de Cassiano Ricardo, na medida em que a preocupação primeira do poeta encontra-se centrada na palavra. Em suas composições, o signo é o principal elemento a ser trabalhado com o intuito de proporcionar ao poema a sua significação. Como já foi mencionado anteriormente, em seus trabalhos poéticos a palavra é o núcleo semântico, sintático, morfológico e fonético em torno do qual giram os demais elementos constitutivos do poema; ela é experimentada como palavra e não como mero objeto de expressão emocional. Ela é atuante, autônoma e, sobretudo, "intransitiva".

Blackmur vai ainda mais fundo nesta questão. Segundo ele, "o discurso da poesia se distingue porque nele as palavras se tornam gestos." (Todorov, 1980: 97). Na poesia, as palavras estão integradas por meio de um sistema muito mais rígido e rigoroso do que na linguagem corrente, do cotidiano. Elas se intercalam no que diz respeito às posições que ocupam no texto. Ou ainda, "as palavras, em poesia, iluminam-se com chamas recíprocas." (Todorov, 1980:99)

Esse tipo de interligação vocabular se faz constante nos poemas de Cassiano Ricardo: as palavras fundem-se umas às outras formando apenas um único signo lingüístico, o qual, muitas vezes, mostra-se indissociável, tanto semanticamente quanto morficamente.

Desse modo, a interpretação, ou melhor, a decodificação da poesia de Cassiano Ricardo requer do leitor uma visão aprimorada capaz de atravessar as diversas faces lingüísticas constituintes de uma palavra a fim de desvendar, na sua mais profunda essência, os elementos que as formam e os que são formados a partir delas.

O exercício poético de Cassiano Ricardo consiste, acima de tudo, em trabalhar a elasticidade da palavra no seu grau máximo, explorando de maneira intensa as suas naturezas sintática, semântica e fonética. Desse modo, a palavra integra-se no poema como um "corpo vivo", que para garantir a sua perpetuação, divide-se e multiplica-se formando novos corpos lingüísticos, porém com conotações diferentes.

Em seus poemas, a palavra é o núcleo do linossigno, onde se agregam outras partículas semânticas e estéticas. Além disso, cada signo lingüístico tem em si um vocabulário próprio, o qual transmite informações de outras palavras que ocupam o mesmo espaço geométrico em que está inserido. Este processo de acoplamento de uma palavra em outra é o que dá origem às "palavras-teses e palavras antíteses cujas sínteses léxicas ficam por conta do leitor" (Cassiano Ricardo, 1966: 17).

A palavra, assim, transforma-se em um instrumento utilizado pelo poeta para retratar a sua visão de e sobre o mundo; é o código por ele utilizado para traduzir os seus sentimentos e desnudar as suas emoções diante do leitor. Ela possui vida, é nervosa, auto-suficiente e criadora de outras palavras que, por sua vez, possuem um novo significado. Como nos explica Cassiano Ricardo, "no poema, a palavra é que faz nascer o espaço."

Para o poeta, a poesia é vista como uma "arte sem tréguas", território onde se multiplicam sentidos (de natureza tanto externa quanto interna ao eu-lírico), por meio da desarticulação dos vocábulos que nele estão instaurados.

A Estilística surge, então, como a ciência da linguagem, por meio da qual a poesia transcende o plano do individual para, agora, atingir o universal. Segundo Vinogradov, "por ela, a criação lingüística do escritor é importante, não somente como um microcosmo, mas também como um dos elos no encadeamento geral dos estilos artísticos sucessivos. Essa aproximação expulsa as obras do poeta da consciência individual e as determina num nível geral." (Vinogradov, 1978: 92).

A "poesia-práxis" busca, justamente, instaurar-se em meio a esse espaço "universal" que é buscado pela linguagem do poeta. Em outros termos, a palavra não é um mero objeto de que o poeta lança mão para construir seus textos; ela é, além de tudo, o núcleo do poema práxis enquanto manifestação poética. Um dado importante que diz respeito à poesia-práxis é o vínculo que esta possui com a realidade político-social que circunda o universo de criação do poeta: a poesia, nestes termos, passa a ser um retrato dos acontecimentos sociais que fazem parte do conhecimento de mundo do artista.

Todos esses fatores são determinantes na poesia de Cassiano Ricardo e reforçam a teoria de que este poeta soube entender a linguagem na sua mais profunda significação, rompendo com a horizontalidade arcaizante e formal, dando lugar a um lirismo rebelde e lúcido, marca registrada do seu fazer poético.
texto de

Patrícia de Ávila Vechiatto
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COELHO, N. N. "Cassiano Ricardo e 'Os Sobreviventes'". In: Cassiano Ricardo/Coletânea organizada por Sônia Brayner. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979. (Coleção Fortuna Crítica; v. 3), pp. 276 a 287. COHEN, J. Estrutura da Linguagem Poética. 2ª ed., São Paulo: Cultrix, 1978. LEFEBRE, M. J. "Discurso Poético e Discurso da Narrativa", in: Estrutura do Discurso da Poesia e da Narrativa. Coimbra: Livraria Almedina, 1975, pp.153 a

Um comentário:

Carla disse...

Excelente trabalho, inspiração !!!

Reflexão



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