Eis os Amantes de Augusto de Campos
O poema eis os amantes faz parte da série de poemas intitulada poetamenos, inicialmente publicada em 1953.
Toda a série é estruturada na relação entre as cores primárias e as cores secundárias. Augusto de Campos buscou no estudo sobre cores feito pelos pintores concretos e por Piet Mondrian (Boogie-Woogie) a base para suas criações. Outro conceito importante para o poeta é a Klangfabernmelodie, um tipo de notação musical elaborado por Anton Webern em que as cores servem para identificar os diferentes timbres dos instrumentos musicais. Esse conceito tem papel fundamental para a realização do projeto verbivocovisual, tão caro aos poetas concretos.
Ao longo dos seis poemas nos deparamos com um tema comum: a ausência da amada, a distância física e todas as sensações oriundas dessa separação. O próprio nome poetamenos já lança ao leitor os indícios dessa incompletude. Esse sentimento apresenta-se nos poemas pelo uso da cor. Entre as cores primárias (cores puras) e as secundárias (formadas a partir de duas cores primárias) constatam-se as relações de ausência, contraste e complementariedade.
O poema é formado por duas cores: o azul e o laranja (cor complementar). Essas cores representam no poema a figura do poeta e da amada. Eis os amantes possui eixo de força central, todo poema está alinhado a partir do centro da página. O tema é o mesmo de The Extasy, de John Donne (1572-1631): a dialética se expressa nas palavras que se fundem ou se separam. Percebemos isso no fragmento da tradução que Augusto de Campos fez do poema:
Mas que assim como as almas são misturas
Ignoradas, o amor reamalgama
A misturada alma de quem ama,
Compondo duas numa e uma em duas. (1986, p.47)
A palavra é o corpo do outro, “cimaeu baixela” e o poema encena, espacial e cromaticamente, a fusão dos amantes. O poema é estruturado através do método de criação de “palavras-valises”, encontrado nos textos de James Joyce. Esse procedimento, aliado à utilização das cores complementares, dá a sensação de fusão entre as palavras, assemelhando-se ao ato sexual entre os amantes, como o próprio nome do poema já diz. Esta fusão entre opostos também é verificada na oralização do poema feita por Augusto de Campos e Lygia Azeredo, em 1953, presente no CD do católogo da exposição Arte Concreta Paulista, de 2002. Na gravação, o poeta recita as partes do poema grafadas em laranja, enquanto Lygia as grafadas em azul. Ao juntar a versão oral com a versão impressa do poema, forma-se uma trama verbivocovisual inseparável.
eis os amantes (1953)
A proposta tradutória, elaborada a partir do poema eis os amantes, traz os mesmos elementos do texto de partida e acrescenta o movimento e o som. Aqui temos uma animação em que os elementos gráficos do poema seguem o movimento feito pelo leitor através do mouse. Para tal, foi utilizado a programação em ActionScript para criar o efeito do texto seguir o mouse e da simulação de gravidade no texto.
Ao leitor, é dado o poder de interferir nesse movimento, porém não é permitido separar seus elementos. Soma-se a esse procedimento a criação de “células sonoras” que estão espalhadas pela tela e só são ouvidas quando o mouse passa sobre esses espaços.
Com os procedimentos empregados na tradução pretende-se criar a sensação de fusão das cores azul e laranja percebidas no texto de partida.
Tradução criativa de eis os amantes (2007) disponível .
Edifício de E. M. de Melo e Castro
O poema visual Edifício faz parte da série Ideogramas, de 1962, em que Melo e Castro mais aproxima seu trabalho da Poesia Concreta Internacional.
O poema é formado apenas de duas palavras: cimento e ferro. Tais palavras representam os elementos mais utilizados na construção civil. O uso dessas palavras no poema se dá de várias maneiras: no sentido correto, de trás para frente (efeito de espelhamento), com a repetição da letra f e o, e, com espaçamentos entre as letras diferentes. Além disso, constatamos a existência de dois eixos, um horizontal e outro vertical, que se cruzam em vários pontos formando uma estrutura que assemelha-se com o esqueleto de um edifício.
Edifício (1962)
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